sexta-feira, novembro 30, 2012

REPORTAGEM/Emigração: Eslavo volta “às origens” para criar o Centro Cultural Português na Rússia

   
*** Por José Milhazes, da agência Lusa ***

Moscovo, 28 nov (Lusa) - Stanislav Mikos nasceu em Kiev, na União Soviética, em 1980, mas foi viver para os Açores quando tinha apenas seis anos. Filho de pai polaco e mãe russa, este cidadão português voltou "às origens" para criar o Centro Cultural Português na Rússia.
"O meu pai foi dar aulas de música para Portugal, apaixonou-se pelos Açores e decidiu ficar. Eu não sabia falar uma palavra em português, mas rapidamente aprendi na escola, era um dos melhores alunos", recorda, num português impecável.
Depois da escola açoriana, foi estudar para o Porto, onde estou música e letras.
"Em 2006, aceitei o desafio de representar uma empresa portuguesa de imobiliário em Moscovo. Era a primeira vez que visitava a capital russa", declara Stanislav à Lusa.
"Paralelamente, estudei relações económicas internacionais em Moscovo, deixando para melhores dias a música", acrescenta.
Quando estudava no Porto, Stanislav Mikos, dava aulas de português a professores russos que chegavam a Portugal para lecionar em universidades e institutos superiores portugueses, mas nunca lhe passou pela cabeça a ideia de criar uma escola de língua portuguesa em Moscovo.
"Em 2008, devido à crise financeira, o negócio do imobiliário terminou, mas, antes, eu já tinha começado a criar a escola de português. A ideia partiu da diplomata portuguesa Graça Pereira, que me dizia que a embaixada recebia frequentemente telefonemas de pessoas que queriam saber onde se podia estudar a língua de Camões", precisa.
Foi assim que surgiu a ideia de criar um local para dar aulas de português.
"A partir daí, foi sempre crescer. Começámos com oito alunos e fiquei muito surpreendido com a grande procura que gozava o ensino da língua portuguesa na Rússia. Como a maioria dos nossos alunos são empresários, funcionários de empresas, as aulas têm lugar à noite e no fim de semana", acrescenta.
Stanislav Mikos já não se recorda de quantos alunos passaram pela escola, que, mais tarde, se transformou no Centro Cultural Português em Moscovo, mas tem a certeza de que "foram já mais de mil".
"Presentemente, a escola é frequentada por 110 alunos, mas a tendência é para esse número aumentar", conclui.

Saúde de Putin provoca adiamento de visita de primeiro-ministro japonês

 
O primeiro-ministro japonês Yoshihiko Noda anunciou hoje ter adiado a sua visita à Rússia ‘sine die’ devido ao estado de saúde do Presidente russo, Vladimir Putin, que alega ter uma lesão na coluna.
"Devido ao facto de o Presidente da Rússia se sentir mal, fui obrigado a adiar a minha visita a Moscovo", disse hoje Noda, citado pela agência ITAR-TASS.
Segundo a agência Ria-Novosti, Noda e Putin deviam discutir questões bilaterais e internacionais, cooperação económica, bem como o litígio fronteiriço em torno de quatro ilhas da cordilheira das Curilhas, reivindicadas pelo Japão.
Na quarta-feira passada, Alexandre Lukachenko, Presidente da Bielorrússia, revelou que Putin não tinha podido jogar hóquei no gelo devido a "uma lesão na coluna".
"Lesionou a coluna vertebral na luta. Combatia no tapete e lesionou a coluna. Por isso, o nosso encontro foi adiado. Estou ao corrente desse problema. Ele gosta de combater. Lutou, lutou, levantou uma pessoa, lançou-a por cima de si e deslocou a coluna", contou.
Não obstante essas declarações, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, insistiu hoje, em declarações ao diário Komsomolskaia Pravda, que Putin "trabalha segundo o horário normal".
Peskov anunciou que o Presidente russo se vai reunir na sexta-feira com os dirigentes dos grupos parlamentares da Duma Estatal (câmara baixa do Parlamento) da Rússia.
Uma fonte diplomática em Moscovo revelou à Lusa que Vladimir Putin poderá não participar na cimeira UE-Rússia, marcada para Bruxelas para 21 de dezembro.

quinta-feira, novembro 29, 2012

Tribunal de Moscovo considera vídeos das Pussy Riot extremistas e proíbe a sua exibição na Internet

 

O Tribunal do Bairro Zamoskvoretzki da capital russa considerou hoje "extremistas" os vídeos do grupo-punk Pussy Riot, nomeadamente o que foi filmado no templo de Cristo Redentor. 

 

O juiz concordou com a acusação que exigia o bloqueio do acesso aos vídeos na Internet, considerando que eles "ofendem o sentimento de milhões de crentes, influem negativamente na moral social, a sua visão tem consequências negativas". 

Três jovens do grupo-punk Pussy Riot foram condenadas a dois anos de prisão por, em fevereiro passado, terem entrado no templo de Cristo Redentor em Moscovo e entoado no altar uma canção em que pediam a Nossa Senhora que livrasse a Rússia de Vladimir Putin, presidente do país.

O Tribunal da Relação confirmou a pena de duas jovens e deixou sair a terceira, Ekaterina Samutzevitch, com pena suspensa.
Samutzevitch, que esteve presente na sala de sessões do tribunal, já anunciou que irá recorrer da proibição.
"Era uma decisão esperada, mas vou recorrer da sentença pois trata-se de censura pura", declarou aos jornalistas.
A Igreja Ortodoxa Russa saudou a sentença, considerando que "não há razão para não respeitar a decisão do tribunal".

quarta-feira, novembro 28, 2012

Governo ucraniano negoceia com desconhecidos


Texto enviado pelo leitor Jest:
 
"O Governo ucraniano assinou o contrato no valor de 1 bilião de dólares com um alegado cidadão espanhol, representante alegado da empresa espanhola “Gas Natural Fenosa” (alias “Gas Natural SDG, SA”; alias “ENAGÁS SA”).
No dia 26 de novembro, em Kyiv, na presença do primeiro-ministro da Ucrânia Mykola Azarov e do ministro da Energia e da Indústria de Carvão Yuriy Boyko, foi assinado o Acordo de Gestão do Consórcio para construção do terminal de gás líquido no valor de 1,1 bilhões de USD. Da parte ucraniana o Acordo foi assinado pelo diretor da Agência Estatal de Investimento e Gestão dos Projetos Nacionais, Vladyslav Kaskiv e pela parte espanhola por Jordi Sarda Bovehi, alegadamente, atuando em nome da “Gas Natural Fenosa”. Os problemas começaram quando a empresa espanhola declarou oficialmente que não conhece Jordi Sarda Bovehi, não lhe passou nenhuma procuração para agir em seu nome ou em nome das suas subsidiárias, escreve Pravda.com.ua.
O jornalista do Financial Times, Roman Olearchyk, escreve no seu blogue que o alegado representante da contraparte espanhola se expressava em espanhol durante a cerimónia da assinatura do contrato e que ele foi identificado pelos governantes ucranianos como Jordi Sarda Bovehi. Abordado na cerimónia da assinatura do Acordo, o próprio Jordi Sarda Bovehi recusou-se a falar com jornalistas.
A parte ucraniana insiste na ideia do que o Acordo foi oficialmente assinado com “Gas Natural Fenosa”, representada pelo Jordi Sarda Bovehi. Na opinião do Vladyslav Kaskiv “Gas Natural Fenosa” nega o seu envolvimento no negócio apenas por causa das “tecnicalidades por resolver”. Kaskiv também informa que os estudos da viabilidade económica do projeto foram efetuadas pela “Gas Natural Fenosa Engineering (ex-Socoin)”, a subsidiária da casa-mãe. Vladyslav Kaskiv também desvaloriza a posição da “Gas Natural Fenosa” e explica que prioridade para Ucrânia está no transporte da plataforma marítima até a costa ucraniana do Mar Negro e que está operação é assegurada pela empresa americana “Excelerate Energy LLC”.
Na página oficial do Governo ucraniano está escrito que o Acordo foi assinado pelo diretor-geral das relações exteriores da empresa “Gas Natural Fenosa” Jordi Garcia Tabernero (pessoa real, mas em nada parecida com o assinante do Acordo) e pelo vice-presidente sénior da “Excelerate Energy”, Edward Scott.
Na página da Agência Estatal de Investimento e Gestão dos Projetos Nacionais está escrito que pela parte espanhola o Acordo foi assinado pelo Jordi Sarda Bovehi.
Diversos órgãos da imprensa ucraniana informam que uma delegação conjunta do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia e da Agência Estatal de Investimento e Gestão dos Projetos Nacionais deslocou-se de urgência para Espanha para tentar minimizar os danos desta história verdadeiramente caricata.
No dia 17 de dezembro de 2010 Ucrânia criou a empresa “Projeto Nacional do Terminal de Gás Liquido”, que deveria assegurar a construção de um terminal marítimo com a capacidade de receber 10 biliões de m³ de gás natural em 2014. No dia 30 de janeiro de 2012 a empresa “Socoin” concluiu os estudos da viabilidade económica do projeto. Segundo o estudo, o projeto poderá ser concluído em 49 meses e as primeiras remessas do gás podem ser recebidas em 2016. O custo aproximado do projeto é de 846 milhões de Euros, a parte ucraniana é de 25% + 1 ação.
Fonte:
Blogueiro
Num país normal o caso poderia terminar com a demissão do chefe da Agência Estatal de Investimento e Gestão dos Projetos Nacionais e até do primeiro-ministro. Na Ucrânia, cujo presidente, Viktor Yanukovych é “académico” de uma academia virtual existente apenas no papel, isso não deverá acontecer tão já…"

terça-feira, novembro 27, 2012

Rússia coloca ultimato à UE sobre regime de abolição de vistos



 A Rússia dá à União Europeia um ano para que se registem progressos decisivos nas negociações sobre a abolição de vistos entre elas, prometendo tomar “medidas adequadas”caso não cheguem a acordo.
“Importância decisiva terá a conversa com a troika da União Europeia em Bruxelas. O Presidente Putin vai colocar a questão de frente: rapazes, avançamos ou não? O ano seguinte será o momento da verdade e tiraremos conclusões no fim do ano”, declarou Anvar Azimov, embaixador especial, aos jornalistas.
Azimov frisou que há anos que Moscovo apela à livre circulação de cidadãos, propondo a reciprocidade, mas denuncia as reticências dos europeus.
Segundo ele, essas reticências não têm fundamentos técnicos, mas puramente políticos.
“Um dos obstáculos é o respeito dos direitos humanos na Rússia, mas nós não fugimos à discussão, pois ao países da União Europeia não têm menos problemas nesse campo”, precisou o embaixador.
Respondendo a uma pergunta da Lusa, Anvar Azimov fez um forte elogio à posição de Portugal face à abolição de vistos com a Rússia.
“Portugal está entre os países que defendem a abolição rápida de vistos entre a Rússia e a União Europeia. Dentro em breve, iremos assinar um acordo de readmissão com o vosso país”, acrescentou.
Confrontado com a pergunta da Lusa de se a Rússia não tenciona, a exemplo da Ucrânia, abolir unilateralmente o sistema de vistos, o embaixador respondeu que “não tomaremos uma decisão unilateral”.
“A Rússia é um país orgulhoso, autossuficiente. Vamos continuar e intensificar o processo de abolição bilateral de vistos até ao fim de 2013. Se até aí não se der um salto decisivo, a Rússia tirará conclusões”, frisou.
Segundo ele, “é mais vantajoso para a União Europa do que para a Rússia a abolição dos vistos”, recordando os milhões de turistas russos que visitam a Europa e “gastam dez vezes mais que os alemães”.
“Sem a abolição de vistos, sem a criação de um espaço humano único, não haverá parceria estratégica entre a Rússia e UE”, concluiu.

sexta-feira, novembro 23, 2012

Como Holodomor modificou os ucranianos


Texto enviado pelo leitor Jest:

"Tal como Holocausto e Genocídio arménio mudaram as respetivas nações, o Holodomor moldou e tipificou para sempre o arquétipo da nação ucraniana.
Holodomor bruscamente mudou as normas incorporadas da ética social. Primeiramente disseminou-se o clima de delação, apoiado e fomentado pelo Poder estatal. O que antes foi vergonhoso era apresentado como ato da consciência social. Os delatores eram pagos, quem mostrava onde o vizinho escondia o trigo recebia 10-15% do achado como prémio. Os quem não tinham nada para comer, quebravam o tabu e denunciavam o vizinho. Isso desmoralizou tanto os camponeses, que no inverno de 1933 o simples facto de ter algum alimento em casa era visto como sinal de prémio pela delação.
Nas aldeias se enraizou a desconfiança e inimizade. Parecia que o mundo ficou de avesso: um delatava para sobreviver, outro para ajustar as contas. Atmosfera tornou-se tão carregada, que os camponeses ficavam com medo do Poder e dos vizinhos, tentando antecipar-se na denúncia. Um camponês da província de Kyiv contou que abateu o vitelo e entregou metade ao vizinho para não ser denunciado. O vizinho aceitou, mas na mesma tarde foi denunciar o caso.
A escola usava as crianças para delatar os seus próprios pais. Os professores formulavam as perguntas disseminados nos testes para saber se alguém tinha trigo escondido. Perguntavam aos alunos se as suas famílias têm algo para comer ou como os seus pais conseguiam os alimentos. Os professores recebiam 10% dos alimentos achados na base da denúncia. Praticava-se a seguinte forma de delação: após as férias, os alunos deveriam escrever uma redação “Como os meus pais celebraram o feriado kurkuliano” (Natal e Páscoa eram considerados “invenções dos popes” e eram proibidos).
Mudanças na cultura alimentar dos ucranianos
Antes do Holodomor não era possível comer a carne dos cavalos, rás, cegonhas, pombos, corvos. Comer as cegonhas era visto quase como sacrilégio, pois a lenda dizia que eles traziam as crianças. No fim de 1932 já não fazia a diferença o que comer. Não havia pequeno-almoço, almoço ou jantar, desapareceram alimentos tradicionais dos casamentos ou enterros. Embora até as últimas as pessoas se agarravam às tradições ucranianas. Uma mulher conta que a sua mãe guardou dois ovos para os pintar na Pascoa, preparou um pequeno pão pascoal para celebrar a festa de Ressuscitação. As pessoas acreditavam que irão sobreviver até o ano seguinte se conseguissem comer a tradicional ementa pascoal.
Comiam coisas não comestíveis: faziam a farinha dos ossos e peles de animais, comiam as solas dos sapatos. Moíam a palha, misturavam a com restos de milho-miúdo e trigo-mouro, cascas das árvores, cascas de batata e disso coziam o “pão”. Faziam a “sopa” de folhas de beterraba. Preparavam as “panquecas” da comida de porcos, que roubavam no kolkhoze.
Antes dos anos 1930, nas aldeias as casas não eram fechadas. A porta era afixada com uma pedra ou vassoura, se os donos não estavam em casa, ninguém entrava. A comunidade era intolerante com o roubo mais insignificante. O ladrão era levado durante um dia inteiro pela aldeia com o produto do seu roubo ao pescoço. Durante Holodomor o roubo deixou de ser visto como pecado, como vergonha. Se não roubar, não irás sobreviver. As mulheres camponesas escondiam nas botas a beterraba ou algum cereal. Com passar dos anos, o roubo no kolkhoze foi encarado como uma compensação pelos dias-horas não pagos.
Holodomor e sua influência na cultura e tradições
Apesar do Holodomor, os casamentos continuavam a celebrar-se, mas sem seguir as tradições. Testemunhas contam que na província de Vinnytsya numa cerimónia de casamento os convidados comiam beterraba com leite. Antes, o casamento era celebrado durante uma semana, a aldeia inteira era convidada para a cerimónia. Antes, o matrimónio era impensável sem o casamento religioso, depois, simplesmente impossível. No arquivo do Instituto de Estudos de Arte, folclore e etnologia da Academia de Ciências da Ucrânia podemos encontrar o folclore da época:
Pararam todos de rezar,
Sem os padres se casar,
Sem os padres se morrer,
Padres foram desprezados.
Os casamentos fartos eram dos serviçais do poder. Mas facilmente se transformavam nas bebedeiras com acompanhamento musical. Quando, após o fim do Holodomor, as tradições matrimoniais foram ressuscitando nas aldeias, vários seus elementos se perderam. Uma mulher conta que em 1934 no seu kolkhoze foi organizada a festa do fim da safra. As pessoas já tinham o que comer, mas todos estavam calados à mesa. Finalmente, alguém começou a cantar e as pessoas simplesmente choraram.
As tradições ligadas ao enterro
Tradicionalmente, nas aldeias ucranianas morto era sepultado no terceiro dia, com a presença do padre e a missa em memória do defunto. Durante Holodomor, os mortos eram atirados numa vala comum ou na melhor das hipóteses eram colocados numa espécie de caixão, se a família ainda tivesse algum homem vivo. As mulheres levavam os seus defuntos em sacos, embrulhados em panos. Colocavam vários mortos na mesma campa, as pessoas não tinham as forças de abrir a campa própria. No inverno de 1933, quando a situação se tornou especialmente terrível, as pessoas eram enterradas na neve. Na primavera do mesmo ano estes corpos foram profanados pelos animais vadios…
Quase todos os kolkhozes tinham posto de recolhedor de cadáveres. Os mortos eram procurados nos quintais, colocados na carroça e levados até o cemitério. Sepultavam 10-20 pessoas em valas comuns. Os recolhedores recebiam 300-500 gramas de pão por dia, era uma maneira de sobreviver a fome. Por vezes eles despiam os mortos e recolhiam a sua roupa. Existe o testemunho do caso na província de Mykolaiv quando um aluno desenterrou o seu professor para levar o fato dele e trocar pelo pão. Quando todos os moradores de uma aldeia morriam, aldeia era marcada, todas as suas casas passavam pela “limpeza”. Depois aldeia era repovoada com os colonos da Rússia e Belarus. Eles recebiam alojamento e emprego. Mas as casas, onde morreram as pessoas, emitiam um cheiro específico. Vários recém-chegados fugiam. Eram capturados e devolvidos à força.
Mito de canibalismo
Os arquivos do Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) mostram que em toda Ucrânia foram registados cerca de 2.000 casos. Por isso, dizer que durante Holodomor o canibalismo era massificado e usual é absoluta inverdade. Casos de canibalismo e necrofagia, na sua maioria, tinham lugar na primeira metade de 1933 e estavam claramente ligados aos distúrbios psíquicos. As pessoas já não sabiam o que estavam a fazer. Houve casos em que os canibais eram linchados pela população, pois as suas vítimas eram, geralmente, as crianças. Na aldeia de Samhorodok, uma mulher que comeu os filhos foi enforcada. As pessoas percebiam que os culpados estavam totalmente transformados, existia até um ditado: “O nosso vizinho já ficou louco e comeu os seus filhos”.
Em 1933 também houve uma onda dos suicídios, um pecado mortal pela ética cristã. Geralmente pessoas se enforcavam. Uma mulher da aldeia de Voskresenske na província de Kyiv não aguentou ver os seus filhos a pedirem-lhe comida. Um homem na província de Vinnytsya contou que ficou tão fraco, que já não conseguiu rasgar a sua camisa para fazer a corda. Houve casos em que se suicidavam até os ativistas pró-poder, eles não aguentavam o assédio das chefias distritais que os obrigavam a retirar os alimentos dos seus conterrâneos.
Sobre a investigadora
Olesya Stasyuk, chefe do Departamento Científico-Organizativo do Centro ucraniano do desenvolvimento da museologia. Formada pela Universidade Pedagógica de Vinnytsya. Em 2007 defendeu a tese “Deformação da cultura tradicional ucraniana no fim dos anos 1920 – início dos anos 1930 do século XX”. Autora da monografia: “Genocídio dos ucranianos: deformação da cultura popular”. Casada, mãe de um filho.
Fonte
Bónus:
A Fundação Shoah da Universidade da Carolina do Sul preparou o curso escolar “Holodomor na Ucrânia de 1932-1933. Dimensão humana da tragédia”. O vídeo pode ser descarregado gratuitamente, tamanho 61 MB:
http://sfi.usc.edu/cms/files/mpegs/s01.mpg"

segunda-feira, novembro 19, 2012

Tarde Russa no Porto



                            TARDE RUSSA
ISCAP, dia 22 de Novembro, Anfiteatro I
14h30m – Conferência «Questões atuais no âmbito do ensino da Língua Russa», Prof. Doutor Stanislav Ivanov (Univ. Pedagógica de Moscovo)
16h30m – Apresentação da obra «Mundo Russo»
17h00m – Porto de Honra

Organização:
Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Porto e Agência Federal da Rússia «Rossotrudnichestvo»

domingo, novembro 18, 2012

Vistos? Qual é a razão?”: discussão no Parlamento Europeu

Texto enviado pelo leitor Jest:


"Visas? What’s the Reason? foi o título de uma discussão e apresentação fotográfica, organizada recentemente no Parlamento Europeu pelo grupo cívico ucraniano “Europa sem Barreiras”.
A exibição, previamente mostrada em diversas capitais europeias, mostra as fotografias e histórias de ucranianos famosos: artistas, académicos, representantes da sociedade civil que tiveram o seu visto Schengen recusado.
O eurodeputado polaco Pawel Zalewski, presente na discussão em representação do grupo dos partidos populares, disse que defende a abolição dos vistos Schengen aos ucranianos. Ele também chamou a atenção ao facto do que atualmente a Polônia é o país que emite maior número de vistos Schengen destinados aos cidadãos da Ucrânia, o que ao seu ver significa que Polônia não tem dúvidas sobre idoneidade dos ucranianos.
O vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Andriy Oliferov, disse não entender as razões reais de continuação da atual política europeia de vistos em relação aos ucranianos. “Se alguém acha que 20 milhões de Euros por ano é uma razão desta política, eu tenho dúvidas nisso”, - afirmou o vice-ministro. Por sua vez, a coordenadora da iniciativa “Europa sem Barreiras”, Irina Sushko, informou que a maioria das recusas dos vistos acontece nos consulados da Itália e Holanda.
É de lembrar que Ucrânia aboliu os vistos de entrada aos cidadãos da UE em 2005, em resultado da política da abertura à Europa, motivada pela Revolução Laranja.    
Fonte:

sexta-feira, novembro 16, 2012

Vladimir Putin chamou-lhe o "alemão ideal"



 

A Rússia está interessada numa cooperação produtiva mais estreita com empresas alemães e no aumento da atração de tecnologias e capitais alemães, declarou Vladimir Putin, num encontro com a chanceler Ângela Merkel.

“O aumento da cooperação comercial, económica e de investimentos com a Alemanha é uma das prioridades para todos. Estamos interessados numa cooperação produtiva mais estreita com as empresas alemãs, na atração mais ativa de tecnologias e capitais alemãs”, precisou o Presidente russo.

Segundo ele, abrem-se as mais amplas possibilidades na esfera das inovações e investigação científica.

“Tenho em vista não só projetos no campo dos supercomputadores, das nano e biotecnologias, mas também em ramos tradicionais como o fabrico de automóveis, de máquinas de componentes para automóveis, a energia”, acrescentou.

Putin assinalou que a Alemanha reforçou a sua posição como um dos principais parceiros estrangeiros da Rússia: as trocas comerciais entre os dois países nos primeiros nove meses de 2012 constituíram 54,6 mil milhões de dólares, o que constitui um aumento de 5,6 por cento em relação a 2011.

“Mais de seis mil empresas alemãs estão representadas na Rússia. Isso mostra que a cooperação diversifica-se”, respondeu Merkel.

Após as conversações, foram assinados acordos de cooperação entre ministérios e empresas russas e alemães.

Antes do encontro do encontro bilateral, Putin e Merkel participaram numa reunião de homens de negócios dos dois países.
Merkel assinalou que na Alemanha não há um alemão ideal, nem na Rússia há um russo ideal, mas Putin não concordou.
“Há um alemão ideal: a senhora chanceler federal”, declarou o dirigente russo entre aplausos e risos da sala.

Magnata russo Andrei Kissilov na corrida á privatização dos Estaleiros de Viana



               
Andre Alexandrovitch Kissilov       
 
A empresa russa RSI Trading, que concorre à privatização dos estaleiros navais de Viana do Castelo, é apenas  uma das empresas que fazem parte da Corporação Financeira da Rússia, confirmaram várias fontes em Moscovo.
Mas se ainda restarem dúvidas, basta comparar as empresas atribuídas, numa declaração publicada pela Embaixada da Rússia em Portugal, à RSI – River Sea Industrial Trading e as empresas enumeradas pela Corporação Financeira da Rússia na sua página na Internet.
Esta Corporação, pertencente ao magnata russo Andrei Kissilov, é uma companhia de investimentos em várias áreas, nomeadamente na construção e reparação de navios, a construção de plataformas onshore e componentes para plataformas offshore,e leasing, mas a principal esfera de actividade é mesmo a construção naval.
Este grupo de empresas privado, em menos de cinco anos, tornou-se conhecido no mercado russo ao adquiriu três grandes estaleiros em território da Rússia, nas cidades de Volgogrado, Petrozavodsk e Nizhi-Novgorod, dando atualmente emprego a mais de três mil trabalhadores e faturando 500 milhões de dólares norte-americanos.
Porém, a Corporação Financeira Russa quer crescer e sair para além das fronteiras do seu país.
“Entre outras razões que levaram à participação dessa corporação na luta pelo privatização dos estaleiros de Viana do Castelo, uma das mais importantes consiste não só em encontrar formas de expandir negócios, mas também chegar a novas tecnologias”, declarou uma fonte.
Esta fonte recorda que os estaleiros de Viana do Castelo construíram vários navios para a antiga União Soviética, nos anos 80 do séc. XX, e que existe o projecto de construir aí 10 navios para transporte de gás condensado russo.
Quanto ao principal acionista da empresa, pode dizer-se que é um homem muito pouco público, mas especialista em construção naval. Na Internet russa é difícil, se não quase impossível, encontrar uma biografia ou uma fotografia de Andrei Kissilov, mas trata-se seguramente de um homem de negócios ligado à construção naval.
Tivemos acesso a um relatório apresentado por Kissilov: “Aumento do poder de concorrência da construção naval russa: revisão de modelos e de estratégia de modernização”, onde propõe correções à política do Governo russo neste setor e ao incentivo da construção naval civil russa..
Na semana passada, o primeiro-ministro Dmitri Medvedev colocou a construção naval como um dos ramos prioritários da modernização da Rússia.
Se a Corporação Financeira Russa vencer o concurso para a privatização dos estaleiros de Viana do Castelo, esse irá tratar-se do maior investimento de capital russo em Portugal e, se for bem sucedido, outros investimentos se poderão suceder.

quarta-feira, novembro 14, 2012

Comissão Eleitoral da Ucrânia publica resultados eleitorais oficiais três semanas depois do escrutínio



A Comissão Central da Ucrânia anunciou os resultados oficiais das eleições parlamentares nos círculos proporcionais, restando saber os resultados nos círculos uninominais, onde se elegem 50 por cento dos deputados.
Segundo os dados oficiais, o Partido das Regiões, do atual Presidente da Ucrânia, Victor Ianukovitch, conquistou 30 por cento dos votos, o que lhe dá 72 mandatos na Rada Suprema (Parlamento).
O Partido Batkivschina (Pátria), liderado pela ex-primeira-ministra Iúlia Timochenko, que se encontra na prisão por “abuso de poder”, conquistou 25,54 por cento e 62 mandatos; o Partido UDAR (Golpe), do campeão do mundo de boxa Vitali Klitchko, aparece em terceiro lugar com 13,96 por cento e 34 mandatos; o Partido Comunista conquistou 13,18 por cento e 32 mandatos e o partido nacionalista Svoboda (Liberdade) conseguiu 10,44 por cento e 25 mandatos.
O protocolo da Comissão Eleitoral foi assinado por alguns dos seus membros com algumas reservas.
“O que vemos aqui neste protocolo não é o resultado da livre escolha das pessoas. Trata-se de um resultado de tecnologias sujas, subornos e enganos”, declarou Igor Gidenko, um dos membros dessa comissão.
A Rada Suprema é constituída por 450 deputados, metade dos quais são eleitos em círculos uninominais e outra metade em círculos proporcionais.
As eleições realizaram-se no dia 28 de outubro, mas os resultados finais ainda estão longe da publicação, porque, nos círculos uninominais, apenas foram eleitos 186 dos 225 deputados.
A oposição fala de “falsificações em massa”, opinião apoiada por numerosos observadores internacionais, nomeadamente os da OSCE, que consideraram as eleições “insuficientemente transparente” e acusam as autoridades de terem influído no resultado.

Legislativas ucranianas vistas pela Europa


O Gabinete das Instituições Democráticas e Direitos Humanos (OSCE / ODIHR), a Assembleia Parlamentar da OSCE (AP da OSCE), a Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa (PACE), o Parlamento Europeu (PE) e a Assembleia Parlamentar da NATO (AP da NATO), emitiram uma declaração preliminar conjunta sobre os resultados e conclusões do processo eleitoral ucraniano (segue o trecho).
As eleições parlamentares de 28 de Outubro foram caracterizadas pela ausência do mesmo nível de jogo, causado principalmente pelo abuso do recurso administrativo, a falta de transparência na campanha e no financiamento dos partidos, a falta de cobertura equilibrada da imprensa. Certos aspetos do período pré-eleitoral constituíram um passo para trás em comparação com as recentes eleições nacionais. (…) A tabulação de dados foi avaliada negativamente pela falta de transparência.
Poderosos grupos econômicos influenciaram o ambiente político prejudicando o processo eleitoral. Isso manifestou-se, nomeadamente, na falta de diversidade de propriedade nos meios de comunicação social e na (falta) do pluralismo, bem como na falta de transparência na campanha e no financiamento dos partidos.
A maioria dos cargos em comissões eleitorais distritais (DEC) e comissões eleitorais descentralizadas (PECs) foram preenchidos por lotaria, como resultado, alguns partidos técnicos obtiveram a totalidade de representação em DEC’s, enquanto outros partidos com candidatos em todo o país não foram representadas no DEC’s de todo. Quase metade do pessoal de PEC e 60% dos membros dos DEC foram posteriormente substituídos. Existem as denúncias, alguns dos quais foram verificados pela Missão Eleitoral da OSCE / ODIHR, que os comissários eleitorais nomeados pelos partidos técnicos foram, de fato, afiliados com outros partidos, especialmente com o Partido das Regiões, no Poder.
Fontes:

domingo, novembro 11, 2012

Rússia desiludida com recusa de Washington repatriar o "senhor da guerra"Victor But




 A Rússia ficou desiludida com a decisão do Ministério da Justiça dos Estados Unidos de proibir a extradição do empresário Victor But, revelou hoje Konstantin Dolgov, porta-voz do ministério russo dos Negócios Estrangeiros.
“Em Moscovo foi recebida com profunda desilusão a decisão do ministério da Justiça dos Estados Unidos de proibir a extradição de But para a Rússia, que tinha sido antes requerida pelo Ministério da Justiça da Rússia”, declarou ele.
Na véspera, as autoridades judiciais norte-americanas alegaram que Victor But é um “criminoso particularmente perigoso”.
“Os argumentos que foram apresentados pelo Ministério da Justiça dos Estados Unidos não merecem sequer qualquer crítica”, considerou Dolgov, acrescentando que: “a Rússia continuará a defender os interesses do homem de negócios que não causou qualquer prejuízo nem aos Estados Unidos, nem aos seus cidadãos”.
Moscovo espera também que a apelação apresentada pelos advogados de But será analisada de forma “objetiva e imparcial”.
Victor But, mais conhecido como “senhor da guerra” devido aos seus negócios com armamento na América Latina e África, nomeadamente em Angola, foi detido na Tailândia em março de 2008 a pedido das autoridades norte-americanos.
O homem de negócios russo foi acusado de tentar vender armamentos no valor de milhões de euros à organização terrorista colombiana FARC.
Em novembro de 2010, But foi extraditado para os Estados Unidos e condenado a 25 anos de prisão por “tráfico de armas”.

sábado, novembro 10, 2012

Rússia desmente anulação de contrato de armas com Iraque




 A Embaixada da Rússia em Bagdade desmente notícia de anulação de contrato de venda de armas ao Iraque, sublinhando que não dispõe de informação nesse sentido.
“Não fazemos comentários. Neste momento, não recebemos informação nesse sentido”, declarou Serguei Tcherkassov, porta-voz da embaixada russa, à agência Interfax.
Antes, o Iraque anunciou uma encomenda de armas da Rússia, no valor de 4,2 mil milhões de dólares (3,3 mil milhões de euros), alegando suspeitas de corrupção.
 “O contrato foi anulado”, explicou Ali Moussaoui, porta-voz do primeiro-ministro iraquiano à agência noticiosa francesa AFP.
“Assim que (o primeiro-ministro Nuri) Al-Maliki regressou da viagem à Rússia, ficou preocupado com a possibilidade de corrupção. Decidiu rever o contrato na totalidade (…) Uma investigação está em curso”, acrescentou.
Moussaoui não quis divulgar a identidade das pessoas que são alvo da investigação e nem se o Iraque pretende renegociar o contrato com Moscovo.
O contrato foi assinado no mês passado, durante uma visita de Al-Maliki à Rússia.
Com este acordo, Moscovo seria o segundo maior fornecedor de armas ao Iraque, seguido pelos Estados Unidos.
Rússia ameaça com multas caso o contrato seja anulado.
“Se se confirmar a anulação do contrato, é preciso compreender bem as sanções previstas no contrato nesse caso. Se o contrato foi devidamente preparado pela parte russa, a parte iraquiana corre o risco de pagar de multa muitos milhões”, declarou um perito russo, citado pela agência Ria- Novosti.

Leonid Brejnev faleceu há 30 anos no país do "surrealista socialista" ou do "socialismo surrealista"






Faz hoje 30 anos que faleceu Leonid Brejnev, dirigente comunista da União Soviética entre 1964 e 1982.
Recordo esse dia como se fosse hoje, pois tratou-se de um grande choque para todos. O anterior secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética, José Estaline, tinha falecido em março de 1953 e, por isso, parece ter-se criado a ideia de que Brejnev era eterno.
Nesse dia, eu tinha bilhete para viajar para Tallinn, para onde devia ir ilegalmente, pois os estrangeiros não tinham direito a abandonar Moscovo sem um visto especial, mas a minha filha estava para nascer, o que era bem mais importante do que uma multa.
As autoridades soviéticas tomaram medidas de segurança especiais em Moscovo e, por isso, só regressei à capital soviética depois do funeral de Brejnev, a que assisti pela televisão. Receava que houvesse controlo de documentos nas estações de caminho de ferro e fosse apanhado pela milícia.
Mas o que me levou a recordar esta data foi o que li hoje na imprensa russa. Passo a citar: “Num texto para a agência Ria Novosti, o escritor e jornalista Vadim Dubnov descreveu as duas décadas de Brejnev – período a que se convencionou chamar "estagnação" - como um "socialismo light".
“Ele era tudo para nós, ele estava em toda a parte”, escreveu, lembrando que o preço da vodka, bebida nacional russa, aumentou apenas em metade durante os 18 anos em que Brejnev governou.
“Muitas pessoas recordam a era da ‘estagnação’ com nostalgia”, observou, por seu lado, a agência russa Itar-Tass.
“Muitos dos que eram jovens durante a ‘estagnação’ têm saudades desses anos em que todos beneficiavam de uma proteção social e tinham confiança no futuro”, escreveu a agência.
Ainda que o regime de Brejnev se tenha pautado também pela repressão dos opositores ao regime, o fim da sua era trouxe “nepotismo” e “um cinismo geral”, segundo uma reportagem mostrada na televisão Pervyi Kanal.
Já velho e doente, Brejnev teve sempre a compaixão de todos, porque, assinalou a mesma reportagem, “não foi nem sanguinário, nem vingativo, foi, de facto, diferente dos seus predecessores””.
Estou de acordo que a vodka era barata, mas discordo que fosse uma época de “socialismo light”. Diria que vivemos (no meu caso, a partir de 1977 e até 1982) um período de decadência do “surrealismo socialista”, ou, para os que preferirem, do “socialismo surrealista”, vai tudo dar ao mesmo.
Se nos esquecer-nos que as perseguições contra os dissidentes aumentaram e a expulsão dos melhores filhos da URSS era cada vez mais frequente, então o regime era mais “light”, porque deixou de fuzilar os opositores sem qualquer julgamento e melhorou um pouco as condições de vida nos campos de concentração (campos de reeducação para alguns).
Depois do terror de Estaline e da instabilidade de Khrutchov, o período de Brejnev foi um tempo de calma se nos esquecermos que foi nessa época que a URSS se envolveu na invasão da Checoslováquia, em guerras no Terceiro Mundo (Angola, Moçambique, etc.) e, por fim, na invasão do Afeganistão.
Para os que viviam em Moscovo como eu, não se podem queixar da vida, porque o abastecimento das lojas era sofrível. Havia falta de muita coisa, mas alguma coisa aparecia. O saco de rede para os produtos e o fio para transportar ao pescoço os rolos de papel higiénico andavam sempre no bolso ou numa pasta para o que desse e viesse.
Porém, para os que viviam na província, esse período ficou marcado pelas viagens a Moscovo para comprar alguma coisa que aparecesse nas lojas: mortadela, lápis, cadernos, etc.
O culto da personalidade de Brejnev aumentava à medida que as suas capacidades psíquicas, o que tornava o dirigente comunista um alvo perfeito de anedotas. Apenas uma: porque é que Brejnev transporta às costas um saco de cimento? Para não cair para a frente com o peso das medalhas!”.
Depois, o dirigente soviético, quando já estava mesmo caquético, começa a escrever livros com tiragens de milhões de exemplares nas mais exóticas línguas do mundo. Os amantes de alfarrabistas nos países lusófonos talvez ainda consigam encontrar a “tríade imortal”: “Terra Pequena”, “Terras Virgens” e “Ressurreição”. Pelo menos, as edições “Avante” não deixaram escapar a obra deste homem que tinham mais títulos e cognomes do que o rei D.Manuel I depois da descoberta da Índia: “secretário-geral do PCUS, presidente do Presidium do Soviete Supremo da URSS, três vezes Herói da URSS, duas vezes Herói do Trabalho Socialista, Prémio Lenine de Literatura, etc. etc.” As más-línguas diziam que só lhe faltava um título: o de “Mãe Heroína”, concedido às mulheres que tinham mais de dez filhos.
Foi na época de Brejnev que na produção industrial começou a aparecer desenhado um homem de braços abertos, semelhante à obra imortal de Leonard da Vinci. As autoridades comunistas chamavam-lhe “símbolo de qualidade”, pois só dele eram dignos os produtos de melhor qualidade, mas as “más-línguas anti-soviéticas” deram-lhe outra leitura. Tratava-se de um homem com os braços abertos a gritar: “Não podemos fazer melhor!”.
O carreirismo político (o cinismo total) estava na moda. Eu conheci algumas pessoas que aderiram por convicção ao Partido Comunista, mas isso era raro entre os jovens. Estes queriam fazer carreira e uma grande parte deles são os que, no espaço pós-soviético, constroem actualmente o capitalismo com o mesmo êxito com que construíram o comunismo.
Posso ter saudades dessa época, pois era jovem! Mas não tenho saudades nenhumas da forma absurda como era dirigida a URSS. O resultado começou-se a ver rapidamente, apenas três anos depois (1985), mas após mais dois secretários-gerais ainda mais decrépitos do que Brejnev. Os pomposos funerais de dirigentes comunistas transformaram-se numa banalidade.
Descanse em paz, mas não volte…

sexta-feira, novembro 09, 2012

Presidente Vladimir Putin substitui chefe do Estado Maior General das Forças Armadas



                         Serguei Choigu, novo ministro russo da  Defesa

O Presidente russo, Vladimir Putin, nomeou hoje o general Valeri Guerassimov chefe do Estado Maior General das Forças Armadas da Rússia em substituição do general Nikolai Makarov, que passou à reforma.
“Apresento para o cargo de chefe do Estado Maior General Valeri Guerassimov, militar da cabeça aos pés, que tem uma grande experiência de vida nas forças armadas, homem respeitado no meio castrense, com uma experiência colossal também no Estado Maior, bem como no terreno. E claro que tem experiência de combate”, declarou Serguei Choigu, ministro da Defesa da Rússia, ao apresentar a candidatura do general a Putin.
“Penso que o ministro escolheu a candidatura e espero que vocês irão trabalhar com toda a força e eficácia”, respondeu o Presidente.
Guerassimov, que até agora era comandante da Região Militar do Centro, assume também o cargo de vice-ministro da Defesa.
O Presidente russo nomeou também outros vice-ministros de Defesa: Arkadi Bazhin, até agora comandante da Região Militar Ocidental, e Oleg Ostapin, que deixa o cargo de comandante das Forças de Defesa Aeroespacial.
As nomeações ocorrem três dias depois da destituição do ministro da Defesa, Anatoli Serdiukov, por um escândalo de corrupção. Mais precisamente, a empresa Oboroservice, dirigida por uma mulher muito, mas mesmo muito próxima do ministro, desviou muitos milhões de euros através de esquemas fraudulentos.
Quando os investigadores entraram na casa da suspeita para fazer buscas de madrugada, depararam com a presença de Anatoli Serdiukov. Este está a ser investigado e se for detido será o primeiro caso de detenção de um ministro por corrupção. Tendo em conta as relações próximas de Serdiukov com Putin e Medvedev, é difícil acreditar que tal aconteça, mas...
O general Guerassimov, formado como oficial de blindados, frequentou três academias militares superiores e, entre 1998 e 2003, comandou tropas russas na região instável do Cáucaso Norte, etapa que coincidiu, etapa que coincidiu com a segunda guerra da Tchechénia (1999-2009).

quinta-feira, novembro 08, 2012

Anatomía de una revolución: la imagen de Lenin en el cine soviético

 
Texto de Yuri Bogomólov, RIA Novosti

"Hoy, 7 de noviembre se cumple el 95 aniversario de la revolución de Octubre (la fecha 25 de octubre corresponde al calendario juliano vigente en la Rusia zarista, después abolido por la Revolución).

Hoy, 7 de noviembre se cumple el 95 aniversario de la revolución de Octubre (la fecha 25 de octubre corresponde al calendario juliano vigente en la Rusia zarista, después abolido por la Revolución).
Faltan sólo cinco años para el centenario pero hasta ahora este acontecimiento provoca controversia, por llamarlo de una manera suave. Esta fecha me ha empujado a volver a ver la película rodada veinte años después de la revolución y titulada 'Lenin en Octubre'.
***
Alexander Kérenski, el ministro de Guerra del Gobierno provisional durante la revolución de 1917, no habría dudado si arrestar o no al señor Uliánov (nombre real de Lenin) si hubiera visto esta película. En la cinta del célebre director soviético Mijaíl Romm se muestran múltiples hechos que habrían resultado más que suficientes para la detención del futuro líder del proletariado mundial.
Todo es evidente: primero cruza la frontera de manera ilegal, intenta conseguir un plano de Petrogrado (ahora San Petersburgo), se encuentra con el 'georgiano maravilloso' Dzhugashvili (apellido auténtico de Iósif Stalin), recién salido de prisión, y encima participa en la reunión clandestina del Comité Central de los bolcheviques en la que se aprueba el plan y la fecha del golpe de estado. Basta para llevarlo directamente ante los tribunales.
…Si damos fe a ciertos testimonios históricos, Alexander Kérenski, un demócrata y un liberal, no se decidió a ordenar el arresto al hombre tan sospechoso por un pretexto irrisorio hoy en día: le parecía que estaba mal visto luchar contra los oponentes políticos con métodos policiales.
Es probable que fuera así. Mientras, la película de la que hablamos aquí tiene muy poco que ver con la realidad de aquellos años. Tiene otra misión y objetivo. No es solo una interpretación artística de un acontecimiento histórico. Es un mito sobre Vladimir Lenin y la Revolución de Octubre.
***
Cabe señalar que el cine histórico soviético es, mayoritariamente, mitológico. 'Lenin en Octubre', 'Lenin en 1918', 'El diputado del Báltico' y muchas otras películas son lo mismo que los mitos de la Grecia Antigua. Pueden ser objeto de reflexión y estudio pero no representan ninguna crónica fidedigna. Los que intentan encontrarla allí están perdiendo el tiempo, es como intentar comprobar si el rey Edipo realmente asesinó a su padre y se casó con su madre.
Si la epopeya cinematográfica sobre Lenin de los años treinta conserva algún significado cultural es el siguiente: por un lado deja entrever de qué manera quería verse la élite gobernante de la Rusia Soviética, y por otro permite comprender las expectativas que el pueblo depositaba en sus líderes...
Cabe aclarar, sin embargo, que el proceso de la creación de mitos se regulaba desde la cúpula del poder soviético y corría a cargo del camarada Stalin, una especie de Zeus en el Olimpo del Kremlin.

***
Mijaíl Romm rodó la película en dos meses y medio. Comenzó a mediados de agosto de 1937 y el 6 de noviembre del mismo año la cinta fue estrenada. El 'georgiano maravilloso' la vio lleno de profunda satisfacción.
'Lenin en Octubre' representa, sobre todo, una hazaña laboral de los que crearon la película. Por supuesto, toda la industria cinematográfica de la URSS estaba volcada en la producción. Pero hay que destacar la valentía del director de esta industria, Boris Shumiatski, y del joven director de cine Mijaíl Romm, que solo había hecho para el momento una cinta con sonido. Ambos pusieron en juego su vida por esta película y siempre quedaba la duda de que el resultado no gustase en el 'olimpo'.
Romm trabajó día y noche casi sin dormir, manteniéndose despierto con café cargado. Posiblemente fue entonces cuando arruinó su salud. Boris Shumiatski fue fusilado en 1938. Pero los mitos viven más que los hombres.
***
Pasados diez años desde la revolución, el régimen se dio cuenta de que, además del poder, necesitaba una imagen positiva. Para el décimo aniversario Serguei Eisenstein le regaló la cinta 'Octubre'. El protagonista, el obrero Nikíforov, tenía un sospechoso parecido físico con Lenin. Pero la película era muda y diez años más tarde hizo falta otra.
Además, había que corregir un poco la imagen del líder revolucionario representándolo como un ciudadano de a pie, una persona normal y corriente. Y en 'Lenin de Octubre' aparece un Lenin con traje burgués pero también con una vulgar gorra de visera que tenía la misión de emparentarle con el proletariado.
Al futuro líder de la revolución bolchevique le protege un auténtico obrero Vasili que le ofrece su casa y su cama matrimonial, echando de ella a su mujer embarazada. Lenin se niega rotundamente a ocupar el lecho familiar y se acuesta en el suelo. Pero no es la sencillez del gran hombre lo que más llama la atención en este episodio, sino una carta enviada por una familiar que vive en el pueblo. La mujer pregunta si pueden repartir entre los campesinos el ganado de los terratenientes.
-    Claro que sí, - ordena Lenin.
-    ¿Hay que echar fuera a los terratenientes?
-    Claro que sí.
-    Queríamos echarles fuera, -continúa la campesina en su carta- pero al final les matamos a todos.
-    Bueno, una carta muy sensata, -concluye Lenin y se duerme.
En la película aparecen, de una forma enmascarada, muchas figuras y hechos reales, pero el motivo más importante del mito es que Lenin es un hombre corriente. Cuando en la escena final es aclamado por la multitud, un obrero con los ojos muy abiertos y encendidos en el primer plano grita: “¡Es como nosotros!”
***
La desmitificación de la imagen de Lenin no empezó hasta después de la Segunda Guerra Mundial, aunque todavía en los años 60 fue utilizada en la lucha contra el mito estalinista. Solo tras la caída del régimen soviético el director de cine Alexander Sokúrov con su cinta sobre Lenin, 'Taurus', acabará con la imagen mítica del “líder de toda la humanidad progresista”.
LA OPINIÓN DEL AUTOR NO COINCIDE NECESARIAMENTE CON LA DE RIA NOVOSTI"

quarta-feira, novembro 07, 2012

Dirigentes, políticos e analistas russos saúdam vitória de Barack Obama, mas não esperam facilidades


    
Dirigentes, políticos e analistas russos saudaram hoje a vitória de Barack Obama nas eleições presidenciais, considerando que será benéfica para as relações entre Washington e Moscovo, mas disseram não esperar facilidades."Barack Obama. Congratulations!" [Parabéns!], escreveu o primeiro ministro russo, Dmitri Medvedev, na sua conta da rede social Twitter, sublinhando que o dirigente norte-americano é "um parceiro compreensível e previsível".
"Espero que a Rússia tenha com ele uma relação normal, pois é importante para a situação global", acrescentou o ex-Presidente russo.
"Alegro-me que na presidência de uma nação muito grande e muito influente não esteja uma pessoa que considera a Rússia o inimigo 'número um'", concluiu Medvedev, numa alusão ao candidato republicano Mitt Romney.
Antes, o Presidente russo, Vladimir Putin, saudara já a reeleição do homólogo norte-americano, esperando para breve um encontro.
Serguei Lavrov, ministro russo dos Negócios Estrangeiros, assegurou, numa entrevista ao diário Moskovskie Novosti, que Moscovo vai continuar a colaborar com a nova administração dos Estados Unidos.
"Estamos dispostos a avançar, tão longe quanto a atual Administração estiver pronta a avançar, na base da igualdade, respeito mútuo e vantagens recíprocas", afirmou.
O politólogo Serguei Markov defendeu que "a Rússia ganha com a vitória de Obama", principalmente, porque "não tem assessores russófonos como os que se concentram em torno de Romney".
"Mais que um rival, Obama vê na Rússia um parceiro estratégico para resolver as tarefas comuns que se colocam perante o mundo", assinalou.
O senador russo Mikhail Marguelov foi mais pessimista nos prognósticos, frisando que a política de reinício entre Moscovo e Washington, no primeiro mandato de Obama, esgotou-se e as divergências sobre o escudo de defesa antimíssil norte-americano na Europa poderão criar problemas nas relações bilaterais.
"No segundo mandato, Obama enfrentará um contexto internacional bastante difícil, em particular no que respeita ao Irão, Síria, Afeganistão, consequências da "primavera árabe", bem como as relações com a Europa e a China", enumerou o senador.
O deputado e politólogo Alexei Puchkov defendeu que a vitória de Obama "impediu a desforra de direita, o que é melhor para o mundo".
"Nas, nos Estados Unidos, irá acentuar-se a divisão da sociedade e terá lugar uma escalada de ódio", escreveu Puchkov no seu blogue.